artigos

Sem Recursos?

Teresa Costa d'Amaral
O Globo - Primeiro Caderno / Opinião
Rio, 4 de maio de 2009


Não consigo entender por que os governos municipal, estadual e federal se viram envolvidos na aventura de construir uma sofisticada e cara candidatura do Rio a sediar os jogos olímpicos e paraolímpicos de 2016. Mais cara ainda se vencermos e o prometido for cumprido. Em momento de crise mundial e de necessidade de racionalização dos gastos públicos, os esforços deveriam ser focados em executar orçamentos que visassem pelo menos a desenvolver ações básicas de saúde e educação.

Sou contra Rio-2016 porque entendo que as políticas públicas no Rio deveriam ser construídas pela simples razão de serem políticas públicas. Onde se viu governante precisar de razões comerciais para justificar o exercício de suas obrigações de governar?

Por que os Jogos de 2016 merecem esse enorme investimento governamental? Só para a apresentação aos visitantes do Comitê Olímpico Internacional disponibilizaram 1 presidente da república, 5 ministros, 1 governador, 1 prefeito, 1 secretário de estado, 74 funcionários federais e ainda 500 funcionários, que prepararam o dossiê, e o gerente comercial da candidatura, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.

Neste submundo dos eventos esportivos está, por exemplo, um senhor sem muita ética e com muita vontade de ganhar dinheiro, que anda por aí enganando atletas paraolímpicos, quase todos carentes de cidadania, de recursos financeiros e de programas de governo que os apoiem. Imaginem, com a Rio- 2016, o que esse tipo de pessoa não fará!

O IBDD, organização não governamental que dirijo, entrou em 2007 com ação civil pública para que município e estado do Rio e União fossem obrigados a cumprir a lei e tornassem acessíveis às pessoas com deficiência seus prédios públicos. Ganhamos agora a sentença definitiva. Nos quase dois anos de negociação, antes da sentença, nenhum desses três níveis de governo mostrou a menor vontade de cumprir a lei. A desculpa de falta de recursos esteve sempre presente. Nenhum deles teve a coragem de dizer em juízo que não tínhamos o direito. Mas nem uma palha foi por eles movida com a intenção de construir uma política pública de acessibilidade. Me parece que recursos não faltam para a Rio-2016.

Não teremos legados sociais — não tivemos com o Pan nem com o Parapan, cujas contas o TCU ainda não aprovou e cujas construções, apesar de compromisso internacional, não eram acessíveis. Nada será diferente. Os resultados desse tipo de megaevento enchem os bolsos de poucos e atraem a atenção de muitos. Podem inflar o peito de governantes e de alguns eleitores enganados.

Sou contra a Rio-2016. Quero o Rio construído para seu povo. Não desejo como legado o que me é devido como obrigação, como cidadã tenho direito a uma cidade com serviços de qualidade em saúde, educação, política de emprego e habitação, meio ambiente e cidadania.

Veja aqui o artigo em PDF

TERESA COSTA D’AMARAL é superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD).


 
voltar
 
 
telefone (021) 992280471                Rua Marques de Abrantes 170 sala 901, Flamengo            Rio de Janeiro,Brasil
PARCERIAS ASHOKA AVINA
Barra de Acessibilidade